Estresse é a palavra da moda, mas muitas pessoas ainda não sabem realmente o que significa, “Hans Selye utilizou esse termo para denominar o conjunto de reações que um organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço de adaptação” (FRANÇA; RODRIGUES, 2011, p.29), essa situação pode ser avaliada “como uma ameaça ou algo que exige dela mais que suas próprias habilidades ou recursos e que põe em perigo seu bem-estar ou sobrevivência” (IDEM, 2011, p.36). Os estímulos que desencadeiam o estresse podem ser físicos ou emocionais, as pessoas podem reagir de formas diferentes frente a estes estímulos, ou seja, o que relaxa uma pessoa pode estressar outra (FIORELLI, 2003). Existem pessoas que são capazes de reagir a situações estressantes, enquanto outras parecem ser abatidas por elas, o que diferencia as pessoas é a capacidade de lidar com o estresse, ou seja, sua percepção, experiência, apoio social, motivações, personalidade, e expectativa (ROBBINS, 2005).
Existem dois tipos de estresse, que estão diretamente ligados aos estímulos: se os estímulos são breves e controláveis e a pessoa consegue se adaptar a situação, gera crescimento, prazer,
desenvolvimento intelectual e emocional, sendo este denominado eustresse ou estresse positivo. Já se os estímulos são prolongados e intensos, desencadeiam um processo de adaptação inadequado, podendo gerar desconfortos e doenças, resultando no estresse negativo ou distresse, que é o mais conhecido pelas pessoas (FRANÇA; RODRIGUES, 2011). O estresse é algo que é impossível de erradicar, pois é importante para que as pessoas enfrentem as diferentes situações do cotidiano. De acordo com França e Rodrigues (2011, p. 31), “a vida sem estresse seria chata, monótona e sem graça, não haveria
desenvolvimento pessoal ou cientifico”, as pessoas precisam aprender a lidar com o estresse, pois estão a todo o momento tentando se adaptar as exigências internas e externas do ambiente.
O agente estressor pode ser real ou irreal, algumas pessoas podem criar seus próprios agentes, ou apenas a possibilidade de que ele possa ocorrer já é suficiente (SIMIONATO, 2006), os fatores estressores são estímulos que interferem no equilíbrio das pessoas, e o estresse é a resposta a este estímulo, ou seja, é a tentativa do corpo em recuperar este equilíbrio, os principais fatores estressores organizacionais são: condições de trabalho, mudanças organizacionais, normas institucionais, clima organizacional, burocracia, comunicação, autonomia, recompensas, reconhecimento, segurança, sobrecarga de trabalho, processos, relacionamentos interpessoais, ciclo de vida da empresa, controle, responsabilidades, pressão, prazos, possibilidade de progresso, suporte organizacional, tipo de cliente, satisfação, conflito de papel, conflito com valores pessoais, entre outros. Fatores físicos, emocionais, pessoais, ambientais, situacionais, familiares, financeiros, provenientes do ambiente externo ou que ameace a integridade da pessoa, como dores, dividas, entrevista de emprego, entre outros, também podem desencadear o estresse (PEREIRA, A. 2002).
Segundo Hans Selye na fase inicial, considerada fase de alarmea pessoa é exposta ao agente estressor, identifica e analisa a ameaça física ou psicológica, avalia as possíveis estratégias de enfretamento, e decide se vai enfrentar ou fugir, se a pessoa enfrenta retoma o equilíbrio do organismo, caso decida fugir provoca um nível maior de distresse apresentando sintomas físicos e emocionais leves como aumento da frequência cardíaca, ansiedade, entre outros, passando para a fase seguinte. Na fase de resistência a pessoa tenta se adaptar ao agente estressor, todos os sintomas advindos na fase de alarme desaparecem, embora a causa do estresse ainda esteja em ação. Na busca por eliminar o agente estressor e reestabelecer o equilíbrio do organismo o corpo produz substâncias antiestresse, mas se a exposição à causa do estresse continua a pessoa segue para a próxima fase. Os sintomas físicos e emocionais neste caso são mais graves como ulcerações no aparelho digestivo, mudanças de humor e no sono, entre outros (HOLLENBECK, 2006 apud PEREIRA, L. 2012).
Na fase de esgotamento ou exaustão, se o agente estressor persistente o sistema de adaptação do corpo se rompe, reaparecem os sintomas da etapa de alarme, com consequente deteriorização do organismo, ou seja, os mecanismos de defesa se exaurem e ocorrem manifestações patológicas. Nesta fase aparecem sintomas físicos e emocionais crônicos como diminuição das defesas orgânicas, surgimento de doenças, e até a morte do organismo. Após esta última fase se a pessoa continua recebendo estímulos dos agentes estressores, a mesma passa a sofrer a síndrome de burnout que “é a resposta a um estado prolongado de estresse, ocorre pela cronificação destes, quando os métodos de enfrentamento falharam ou foram insuficientes”, este apresenta apenas aspectos negativos (PEREIRA, A. 2002, p. 45). As consequências do distresse dependem de fatores individuais como predisposição genética, experiências socieducacionais, fatores ambientais, fatores organizacionais, e a etapa em que a pessoa se encontra no processo de
desenvolvimento da síndrome (PEREIRA, A. 2002).
Para as empresas os impactos do distresse são: queda da produção, choques hierárquicos, predisposição a acidentes de trabalho, diminuição da qualidade dos produtos, absenteísmo, aumento da rotatividade (PEREIRA, A. 2002), greves, ociosidade, sabotagem, afastamentos por doenças, baixo nível de esforço, aumento de despesas médicas, relacionamento desrespeitoso entre os colaboradores (FRANÇA; RODRIGUES, 2011). Por isto, a melhor opção é prevenir para não ter que aplicar estratégias de enfrentamento, ou seja, um
[...] conjunto de esforços que uma pessoa desenvolve para manejar ou lidar com as solicitações externas ou internas, que são avaliadas por ela como excessivas ou acima de suas possibilidades. Estratégia consciente ou não da pessoa para buscar e processar informações sobre a situação para diminuir a resposta de distresse, para manter o equilíbrio do organismo (FRANÇA; RODRIGUES, 2011, p.48).
Ainda segundo os autores o enfrentamento pode ser ativo (expressa o desejo de mudança) ou passivo (conduz a alienação). De acordo com Pereira, L. (2012), o enfrentamento ativo tem algumas fases onde à empresa e o colaborador podem se ajudar, primeiramente o individuo precisa desenvolver a consciência de que esta estressado, depois ambos devem identificar os agentes estressores, ou seja, as situações que possam induzir ao estresse através de reuniões com a equipe ou individual, pesquisa de clima organizacional, avaliação de desempenho, conversas informais,
coaching, entre outros. O autor ainda saliente que depois de encontrar as causas é preciso investir em medidas que possam provocar alterações na forma como as pessoas estão trabalhando, entre as possíveis medidas a serem adotadas temos o enriquecimento de
cargos, análise da descrição de
cargos, treinamentos e
desenvolvimento de
competências técnicas e
comportamentais, programas de qualidade e processos de melhoria contínua, eliminação das horas extras, programas de acompanhamento e orientação, melhoria no fluxo de informações, planos de remuneração, carreira e reconhecimento, entre outros.
Pereira, L. (2012), alerta que às vezes mudar as causas de estresse não são suficientes, e a eliminação dos sintomas é melhor do que nada, intervenções como exercícios físicos, técnicas de relaxamento e meditação, feedback positivo, rodízio de
cargos, ginástica laboral, técnicas de administração do tempo, expansão da rede de apoio social, planejamento econômico, reeducação alimentar, entre outros, podem gerar benefícios tanto para as pessoas quanto para as empresas como a melhoria da qualidade de vida, aumento da motivação e satisfação no trabalho, redução do número de doenças e afastamentos, oportunidade de crescimento pessoal e profissional, otimização dos recursos da empresa, redução da ansiedade, aumento da produtividade, entre outros (FRANÇA; RODRIGUES, 2011).
Segundo Fiorelli (2003, p. 254), o estresse pode causar um ciclo vicioso, onde conflitos no trabalho podem ocasionar impactos negativos no ambiente familiar, gerando mais conflito no ambiente organizacional e assim por diante, “neutralizar os fatores de geração de estresse no trabalho contribui para tornar o individuo mais disposto para exercer suas atividades”, melhorando assim sua qualidade vida e produtividade.
Fontes:
FIORELLI, José Osmir. Psicologia para administradores: integrando teoria e prática. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 240-255.
FRANÇA, Ana Cristina Limongi, RODRIGUES, Avelino Luiz. Stress e trabalho: uma abordagem psicossomática. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 29-55, 159-177.
PEREIRA, Ana Maria T. Benevides et. al. Burnout: Quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do psicólogo, 2002, p. 21-50, 69.
PEREIRA, Luciano Santana. Motivação de indivíduos e grupos de trabalho. Maringá: Cesumar, 2012, p. 28-35, 105-134.
ROBBINS, Stephen P. Comportamento organizacional. 11ª ed. São Paulo: Pearson, 2005, p. 438-446.
SIMIONATO, Monica Amala. Competências emocionais: o diferencial competitivo no trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006, p. 20-32, 111-113.
ZANELLI, José Carlos. Estresse nas organizações de trabalho: compreensão e intervenção baseadas em evidências. Porto Alegre: Artmed, 2010, p. 13-17.
Fonte: http://www.rhportal.com.br/artigos/rh.php?rh=Estresse-X-Ambiente-De-Trabalho&idc_cad=lwdxvufbw