quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Concepção de Carl Rogers sobre aprendizagem

INTRODUÇÃO                 
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Estudar a teoria de Rogers é muito importante para o educador, pois este perceberá, através dela, que há um grande trajeto a ser percorrido por todos. Um caminho repleto de esperança, conquistas, respeito, desafios, ousadia e, principalmente, muito trabalho.
Sua teoria convida a todos a refletir sobre as mudanças necessárias e que devem ser buscadas, tanto dentro como fora da sala de aula. Ela aponta para uma profunda mudança no relacionamento entre professor e aluno, relacionamento esse capaz de provocar transformações intensas, tanto no comportamento de ambos como na busca dos saberes.
Suas observações são instigantes e levam o professor a repensar a educação que é imposta atualmente (de cima para baixo, de acordo com o próximo plano político). Apesar de toda intransigência do sistema educacional, essa teoria pode, sim, ser implementada dentro da sala de aula.
Os relatos das escolas que adotaram esta teoria vêem para comprovar a sua importância para o futuro da educação. Escolas que romperam com a escola tradicional, enfrentaram as incertezas e ousaram, apesar do medo, construir a escola do futuro.

I – CARL ROGER E SUA TRAJETÓRIA DE VIDA

Carl Rogers nasceu em 1902 em Chicago e aos 17 anos ingressou no campus de agronomia na Universidade de Wisconsin. Desistiu desse curso e matriculou-se no curso de história.
Ao findar o curso de licenciatura em história, matricula-se no Seminário da União Teológica em Nova Iorque. Após um ano no curso começa a freqüentar algumas aulas de psicologia na universidade. Encantado pelo curso de psicologia, abandona a teologia e transfere-se para a Teachers College da Universidade de Columbia para freqüentar o curso de psicologia e psicopedagogia.
Rogers começar a trabalhar como psicólogo no Instituto de Aconselhamento Infantil. Nesta época teve que lutar para não ter seu salário reduzido pela metade, visto que os psiquiatras não admitiam um psicólogo ganhar igual a eles.
Adquire seu doutorado em 1928 no Theachers College.
É convidado a ser professor pela Universidade de Ohio após ter publicado, em 1938, seu primeiro livro, sobre Tratamento Clínico da Criança Problema.
Passa a assumir a cadeira de psicologia na Universidade de Chicago e cria um novo Centro de Aconselhamento. Em 1946 é eleito presidente da Associação Americana de Psicologia, aclamando, assim, o seu reconhecimento como profissional.
Rogers assume o departamento da Ciências da Educação em 1957, na universidade de Wisconsin. Em 1971 dirige sua atenção especialmente para a Educação, com a proposta da pedagogia centrada no aluno. Faleceu em 1987.
As idéias de Rogers sobre a educação são de fácil compreensão, já que suas observações são frutos de uma vivência – dentro de seu próprio consultório – entre terapeuta e paciente. Rogers desenvolveu uma teoria aplicável em qualquer tipo de relacionamento, seja entre professor e aluno, seja entre pais e filhos, amigos ou mesmo na vida profissional.
Ao olhar uma pessoa como um todo a ser considerado, ele quebra o paradigma do relacionamento formal e cria um relacionamento interpessoal, transportando para a educação esta convivência em busca de uma aprendizagem significativa e qualitativa.
Como terapeuta suas idéias foram revolucionárias. Entretanto, não demorou muito para encontrar resistências entre os profissionais da mesma área. Rogers começa a ser criticado ao olhar para a pessoa em seu consultório não mais como um paciente doente a ser curado, e sim como um cliente apto a aprender a conviver, independente de suas limitações.
No campo da psicanálise ele desenvolveu a idéia da terapia centrada na pessoa. No campo da educação, aplicando as experiências do consultório, trabalhou a aprendizagem centrada na pessoa.
Da mesma forma que dentro da psicanálise, no princípio, foi difícil entender a teoria rogeriana, na área da educação não foi diferente, ou seja, há resistência até hoje – vindo não só por parte do professor, mas também do aluno.
Rogers passa a trabalhar com as pessoas de forma diferenciada dos outros psicólogos e a combater várias tendências da ciência comportamental já em desenvolvimento em sua época. Também passa a questionar vários cientistas renomados e conscientizar outros do perigo dessa ciência.
Rogers considera a ciência comportamental uma forma de manipulação da mente do ser humano, desrespeitando a liberdade de cada um, ignorando assim os sentimentos, desejos e aspirações. Alerta, também, para o perigo dessa ciência nas mãos dos detentores do poder, pois podem usá-la para conduzir o ser humano.
A Ciência Comportamental desconsidera a natureza do homem em poder fazer suas próprias escolhas e se responsabilizar por elas, impondo sobre o indivíduo a vontade de poucos. Ela tira do homem a espontaneidade, a liberdade de ser o que quer ser, de traçar a sua trajetória de vida e ser responsável por ela – primorosos valores que ninguém gosta de perder, muito menos de ser manipulado de acordo com os interesses alheios.
Rogers defende a idéia de mudança de comportamento através da aprendizagem significativa, pois sua experiência no consultório como terapeuta lhe mostra que um aprendizado centrado no cliente é perene (provoca a transformação interna do homem). ROGERS (1997) entende que:”Por aprendizagem significativa entendo aquela que provoca uma modificação, quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação da ação futura que escolhe ou nas suas atitudes e na sua personalidade”.
Na psicoterapia a aprendizagem acontece com a vivência, com as experiências do dia a dia. Ao deparar com os problemas do cotidiano, o indivíduo conscientiza-se da necessidade de adaptação a sua nova realidade e a seus conflitos. Essa é transformadora, pois exige da pessoa uma mudança de atitude ao solucioná-lo.
Neste tipo de terapia o relacionamento entre cliente e terapeuta tem que ser transparente e real. Caso seja um relacionamento de fachada, o cliente não confiará no profissional à sua frente, e conseqüentemente, não haverá uma aprendizagem consciente definitiva e transformadora.

II – A APRENDIZAGEM CENTRADA NA PESSOA

Dessa mesma forma deve acontecer, também, na educação. Um relacionamento interpessoal, afetuoso e de interesse de ambos, professor e aluno, juntos, caminhando para o aprendizado significativo. Um aprendendo com o outro, todos os dias. Essa humildade por parte do professor o levará a um relacionamento autêntico e transparente com o educando. A autenticidade será a principal ferramenta do educador que conduzirá o aluno à aprendizagem significava.
Rogers combate a aprendizagem do tipo “tarefas”, que só utiliza as operações mentais, não considerando o indivíduo como um todo. Esse tipo de aprendizado é esquecido com o tempo, pois não tem relevância com os sentimentos, as emoções e sensações do educando, e não provoca uma curiosidade que leve o indivíduo a aprofundar mais e mais.
Para Rogers, ensinar é mais que transmitir conhecimento – é despertar a curiosidade, é instigar o desejo de ir além do conhecido. É desafiar a pessoa a confiar em si mesmo e dar um novo passo em busca de mais. É educar para a vida e para novos relacionamentos.
A sobrevivência é um estímulo ao aprendizado, desde que o conhecimento transmitido seja imutável. Quando uma pessoa vive em um ambiente hostil e nesse existem novas situações constantemente, do que adianta o conhecimento transmitido por seus ancestrais? Ainda mais hoje, no mundo globalizado, tudo se transforma muito rápido, inclusive o conhecimento científico. Nada é garantido, nem mesmo o conhecimento de hoje. O que se sabe profundamente hoje poderá, daqui a dez anos, ser considerado errado.
Uma pessoa instruída é capaz de se adaptar às mudanças que ocorrem durante a sua vida (a aprendizagem é contínua). A vida é um processo de mudança – tudo ao seu redor é questionável e tudo se mistura. Por isso, não existe aquele que sabe e aquele que ensina, todos sabem alguma coisa e todos aprendem alguma coisa com alguém. É nesse contexto que Rogers vai expor a sua teoria.
O professor passa a ser considerado um facilitador da aprendizagem, não mais aquele que transmite conhecimento, e sim aquele que auxilia os educandos a aprender a viver como indivíduos em processo de transformação. O educando é instado a buscar o seu próprio conhecimento, consciente de sua constante transformação.
O facilitador se reconhece como um material de apoio humano para o educando. Enquanto um bom professor é um estrategista da educação, ele usa o seu tempo planejando o currículo escolar, suas aulas e o faz muito bem. O facilitador, por sua vez, cria condições de interação pessoal com os educandos, prepara o ambiente psicologicamente favorável para recebê-los, proporciona aos alunos material de pesquisa, instiga a curiosidade que é inerente ao ser humano para promover a aprendizagem significativa. O que um facilitador ensina aos educandos é buscar o seu próprio conhecimento, para tornar-se independente e produtor de seu próprio processo cognitivo.
Rogers considera o indivíduo como um todo: mente e corpo, sentimento e intelecto são partes integrantes do mesmo ser e são inseparáveis. Na educação moderna só está sendo valorizada a parte intelectual, como se o conhecimento cognitivo pudesse ser separado das vivências do ser humano. Um indivíduo que apresenta problemas emocionais não consegue reter um bom aprendizado, por isso é necessário considerar que a atmosfera psicológica é fundamental para o processo de aprendizagem.
Para conseguir um bom resultado como facilitador é preciso ter ou desenvolver algumas qualificações. A mais importante de todas é a autenticidade, qualidade que conquista o respeito dos educandos. Nesse caso o facilitador precisa aprender primeiramente a ser autêntico consigo mesmo e, só depois, expor aos alunos seus limites, suas dificuldades. É necessário deixar cair a máscara do educador bonzinho, compreensivo, tolerante; ser verdadeiro sem transferir suas próprias frustrações para os alunos. É preciso se mostrar pessoa como eles também são: com defeitos e qualidades, sentimentos e desejos, alegrias e tristezas. Um ser real e comum com sua própria história de vida. Essa transparência conquista a confiança e o respeito dos educandos.
A segunda qualificação é o apreço, a aceitação e confiança. Isto significa ter carinho pelo estudante, por tudo que ele representa; considerar suas ações e reações, e aceitá-los como pessoas reais como você. O facilitador confia neste ser em transformação, que possui qualidades e defeitos, em busca de satisfazer suas aspirações desejos e ansiedades, como qualquer ser humano.
A terceira qualificação é a compreensão empática, que ocorre quando o facilitador deixa o julgamento de lado e compreende o educando, tornando a aprendizagem significativa. Quem possui esta habilidade não classifica o aluno, antes, integra-o ao grupo. Possui a capacidade de olhar o outro de seu ponto de vista e isso será de extrema importância para a aprendizagem. Se colocar na posição do outro, olhar através do ponto de vista do estudante, são fatores fundamentais para a aproximação do facilitador e do aluno.
É, portanto, fundamental que um facilitador confie no ser humano, em suas potencialidades e capacidades da escolha do caminho traçado para sua própria aprendizagem. A pessoa que não confia no outro ser humano, não pode tornar-se um facilitador. É mister aceitar os questionamentos, os caminhos errôneos, as propostas diferentes das planejadas. Todos os alunos são dignos de confiança, todos são importantes, e devem ser respeitados independente do contexto e de sua realidade.

O facilitador arrisca a viver na incerteza dos relacionamentos pessoais, permitindo que a sala de aula tenha vida e liberdade de expressão, sem saber o que este relacionamento interpessoal pode gerar dentro e fora da sala de aula. Agindo assim, destemidamente, ele torna a aprendizagem parte da vida de seus educandos.

O professor que ajuda o aluno a pensar por si próprio (auxiliando-o com autenticidade, confiando em sua habilidade) e, com carinho, conduzindo-o ao caminho da participação e independência é, realmente, um bom facilitador da aprendizagem.

Olhar a disciplina com o olhar do aluno – (não com o olhar de cima e dos planejamentos curriculares e pré-determinados, e sim do ponto de vista do aluno) o estimula a procurar os recursos para que possa trabalhar esta disciplina sem prejuízo ao currículo escolar. O facilitador disponibiliza recursos que agucem a curiosidade dos alunos em buscar e aprofundar seus conhecimentos. O ser humano já nasce com uma tendência realizadora e o que tem que ser explorado ou restaurado nos alunos é essa tendência que lhe é tirada, cada dia um pouco, dentro do ensino tradicional.

O aluno não tem que se preocupar em ser avaliado pelo professor, pois faz parte do processo de aprendizagem a auto-avaliação responsável. Lembramos que, na aprendizagem centrada na pessoa, o aluno torna-se gestor de seu próprio processo de busca do conhecimento. Ele aprende também a estabelecer critérios, a determinar os objetivos a serem alcançados e verifica se foram alcançados. Dentro desse critério é que se embasa a auto-avaliação do aluno e a avaliação do professor.

Toda criança tem, por natureza, a necessidade de ensinar o que aprendeu. Neste tipo de aprendizagem e de busca de novos conhecimentos, o aluno é também responsável pelo desenvolvimento de outros colegas. Dessa forma, elas também aprendem a desenvolver um relacionamento interpessoal com os colegas e com a família.

Quanto ao erro cometido pelo aluno durante o processo de aprendizado, ele será orientado pelo facilitador a reencontrar o caminho certo, sem ser diminuído, julgado ou menosprezado por todos. Uma vez que o educando sente-se seguro e confiante em um relacionamento respeitoso e sincero dentro da sala de aula, ele não teme falar de suas experiências e vivências fora da sala de aula.

Faz parte da vida de um facilitador nutrir a curiosidade e as perguntas de seus alunos, permitindo aos alunos brilhantes e criativos desenvolverem seus interesses e expor suas idéias, mesmo quando estas pareçam sem sentido. A nutrição dessas idéias pode levar a grandes experimentos.ROGERS (1986: 150) explica:
“Em grande parte, com todas as crianças, mas, excepcionalmente, com crianças brilhantes, não é necessário ensiná-las, mas elas precisam de recursos que possam alimentar seus interesses. Para fornecer essas oportunidades, é preciso muita imaginação, reflexão e trabalho.”
  
Uma das formas de criar a responsabilidade sobre seu próprio aprendizado é estabelecer contrato estudantil independente ou grupal, no qual as regras são feitas junto com o aluno. No contrato, estarão pré-estabelecidas as regras a serem cumpridas por ambos. Dessa forma, os estudantes tornam-se seguros e responsáveis. Ao fim do contrato, que será avaliado por ambos, o educando prestará contas ao facilitador sobre tudo que aprendeu e pesquisou.

A aprendizagem centrada na pessoa é revolucionária e transformadora por aproveitar o desejo natural de todo estudante de participar e interferir em seu próprio processo.


 Fonte: https://elisakerr.wordpress.com/concepcao-de-aprendizagem-de-carl-rogers/

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