Nosso mundo supervaloriza os extrovertidos, mas pessoas introvertidas também podem ser grandes líderes. Veja como usar essa característica a seu favor.
Não restam dúvidas de que Bill Gates é um homem de negócios bem-sucedido. Segundo a revista Forbes, ele é a pessoa mais rica do mundo, dono de uma fortuna de cerca de US$ 80 bilhões. A empresa que fundou, a Microsoft, está na casa e no escritório de milhões de pessoas no planeta. Gates também é referência no mundo da filantropia, como criador da Fundação Bill & Melinda Gates e à frente do Giving Pledge, iniciativa que incentiva os muito ricos a doarem parte de suas fortunas.
Mas, pense bem… Gates é uma pessoa introvertida. O senso comum nos diz que os extrovertidos têm mais chances de se dar bem como empreendedores. Nesse texto queremos justamente tentar acabar com esse mito. O próprio Gates já deu sua opinião sobre o assunto: “Acho que introvertidos podem se dar muito bem. Se você for esperto e aprender os benefícios de ser um introvertido, por exemplo, pode estar disposto a se desligar por alguns dias e pensar sobre um problema complexo, ler tudo o que puder e se esforçar bastante para pensar os limites daquela área”.
Use o poder da escuta
Segundo Marcia Veras, que atua com coaching e desenvolvimento de lideranças, é preciso quebrar o paradigma, porque extroversão e introversão não determinam as chances de se dar bem como líder ou empreendedor. “Os introvertidos contribuem de uma forma muito bacana porque são pessoas que tendem a ouvir mais, falar menos, fazer perguntas e pensar mais antes de falar. Claro que estou generalizando, mas a ideia é que eles têm pontos fortes”, afirma.
Marcia lembra que a escuta ativa é hoje um fator escasso de alta demanda. “Nós vivemos num mundo que não escuta muito. Então saber alavancar essa habilidade, que pode estar mais presente nos introvertidos, pode contribuir para gestão de equipes, por exemplo”.
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Não confunda introversão com timidez
Susan Cain, autora do best-seller “O Poder dos Quietos”, é uma defensora da maior valorização dos introvertidos no mundo. Em sua apresentação no TED, que já teve mais de 15 milhões de visualizações, ela faz uma ressalva avisando que timidez é diferente de introversão. A timidez, diz, é o medo do julgamento do outro. Já a introversão é uma maneira de reagir aos estímulos. Os introvertidos costumam ser mais vivos e produtivos quando estão em locais mais calmos, de menor estímulo –preferem, por exemplo, menos luz, menos barulho e menos multidão.
Saiba quando é hora de recarregar as energias
Segundo a definição Junguiana, usada inclusive em testes de personalidade como o de Myers-Briggs, a diferença entre extrovertidos e introvertidos está em de onde a pessoa tira sua energia. Os introvertidos preferem atividades solitárias, pensam antes de falar e ficam cansados com interação social. Os indivíduos extrovertidos preferem atividades em grupos, pensam enquanto falam e ganham energia com interação social.
“Conheço algumas pessoas que são introvertidas e trabalham com treinamento ou ganham dinheiro como palestrantes. Um introvertido pode fazer qualquer coisa. A diferença é que, ao final do dia, ao invés de sair com um grupo para tomar uma cerveja, elas preferem ir para casa ou algum lugar onde estejam mais tranquilas para restabelecer sua energia”, explica Marcia. Para um empreendedor, vale a mesma coisa. Ele pode ter um ótimo relacionamento com a equipe, fazer apresentações para investidores e dar palestras sobre o seu negócio. A diferença é que ele talvez precise de momentos solitários e quietos para resolver problemas, encontrar soluções criativas ou recarregar suas energias.
Uma das coachees de Marcia é introvertida e recentemente foi promovida para um cargo de gestora. Logo surgiu uma dúvida, que foi levada para a sessão: tudo bem se eu almoçar sozinha, sem a minha equipe? Para ela, era importante ter esse momento para si. Não há problema algum, desde que ela consiga encontrar outros momentos para interagir e criar vínculos com seus subordinados.
Derrube os mitos
Adam Grant, professor de Wharton, conduziu uma pesquisa com outros dois colegas para testar a ideia de que extrovertidos são líderes melhores. Eles conduziram um estudo em 130 franquias de uma rede de pizzarias nos Estados Unidos. Os gerentes respondiam um questionário dizendo quão extrovertidos se consideravam e os funcionários tinham que dizer com qual frequência davam sugestões para melhorar o negócio.
Os resultados mostraram que, em times em que os funcionários não eram muito proativos, os líderes extrovertidos tinham lucros 16% maiores que a média. Porém, em franquias nas quais os funcionários davam ideias com mais frequência, líderes extrovertidos significavam lucros 14% menores. “Líderes de voz mais mansa podem ter melhores resultados com funcionários proativos –guarde os extrovertidos e falantes para times que precisam de alguém para lhes dizer o que fazer”, escreveram os pesquisadores na Harvard Business Review em 2010.
Em outro artigo, Grant escreveu sobre os 5 mitos que rodeiam os introvertidos. Além da questão dos líderes, vale a pena citar duas outras falsas impressões: extrovertidos são melhores em networking e melhores em vendas. No caso do networking, Grant afirma que a qualidade é mais importante que a quantidade e que os introvertidos podem ser mais agradáveis em uma conversa do que extrovertidos. Quando o assunto é vendas, o pesquisador garante que, segundo pesquisas já realizadas, a correlação entre extroversão e vendas é zero.
Saia da zona de conforto
Se um introvertido precisa descobrir seus pontos fortes e usá-los a seu favor, também vale lembrar que, como em tudo na vida, para ser cada dia melhor é preciso sair da zona de conforto. Então, se você identifica que tem dificuldade para falar em público, por exemplo, que tal começar a treinar essa habilidade? A própria Susan Cain tinha pavor de falar em público até alguns anos atrás. Ao se expor em pequenas doses ao seu medo, começou a encontrar o prazer de falar em público e isso se tornou uma de suas principais atividades.
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Busque parceiros
Além disso, é sempre interessante ter pessoas ao seu lado que tenham personalidades complementares. O próprio Bill Gates tocou o negócio por muitos anos ao lado de Steve Ballmer, um executivo absolutamente expansivo. Voltamos à frase de Gates do início do texto com a sua continuação: “Se você quer contratar pessoas, deixá-las animadas, construir uma companhia em torno da sua ideia, é bom aprender o que os extrovertidos fazem, contratar alguns extrovertidos e usar as duas habilidades para ter uma empresa que seja bem-sucedida em reflexões profundas, construção de times e venda de ideias ao mundo.”
Fonte: https://endeavor.org.br/empreendedores-introvertidos/
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