quarta-feira, 15 de junho de 2016

Exercendo a liderança nos tempos atuais

Por Sonia Jordão
Quando você estiver exercendo a liderança, precisa preocupar-se com o que fazer, e não simplesmente com o que você é.

Liderar é a arte de conduzir as pessoas para que façam o que é necessário por livre e espontânea vontade. É também conseguir os resultados esperados através de outras pessoas. Um líder especial consegue extrair o melhor de cada pessoa porque, para ele, as pessoas são o que há de mais importante em seu trabalho. A propósito, a liderança é uma característica a ser desenvolvida.

Ao liderar preocupe-se em exercer as funções de liderança. São elas: Definir as tarefas, planejar, dar as instruções, controlar, avaliar, motivar, organizar e ser exemplar.

Podemos dizer que:

  • Definição da tarefa significa “algo que precisa ser feito”. É preciso ter objetivos claros, limitados quanto ao tempo, realistas, desafiadores e possíveis de avaliação.
  • Planejamento é construir uma ponte mental de onde você está agora até onde deseja estar quando tiver alcançado o objetivo. Planejar implica fazer as perguntas: “o quê”, “por quê”, “como”, “quando fazer” e “quem faz o quê”.
  • Dar instruções é a função de comunicar os objetivos, as tarefas e os planos à equipe. Agora, nem sempre o que você fala está sendo ouvido e compreendido, já que existem pessoas que se comunicam melhor através da fala e outros através da escrita. Portanto, garanta que o outro entenda o que quer transmitir.
  • Através do controle é que se garante que a energia da equipe está canalizada para a execução da tarefa, e que os recursos são usados de maneira correta. Bons líderes conseguem o máximo de resultados com o mínimo de recursos.
  • A avaliação é efetuada durante toda a execução da tarefa. No momento de se avaliar é importante que o líder seja imparcial e justo. Que se dê um feedbackhonesto e preciso, que se faça críticas construtivas e se elogie sinceramente.
  • Motivar é despertar a força e a energia interior de cada pessoa. Todos esperam que os líderes consigam incentivar as pessoas. É importante procurar despertar a força e a energia interior de cada um. Uma simples frase pode conseguir fazer a pessoa se sentir motivada.
  • Para entendermos a função “organização”, precisamos considerar três outros aspectos: sistemas, administração e administração do tempo.
  • Um sistema é uma série de partes inter-relacionadas formando um todo. A cada dia fica mais difícil tocar qualquer negócio sem sistemas, e eles são vários: sistema de produção, sistema de avaliação, sistema de controle de qualidade, sistema de informações e assim por diante.
  • Administração envolve o trabalho com a papelada e se refere ao desenrolar cotidiano dos negócios. Geralmente inclui administração financeira em vários níveis. Quando o líder assume a responsabilidade administrativa está se transformando em um facilitador.
  • Quando falamos em administrar o tempo estamos nos referindo a administrar nossa vida em relação ao tempo. É bom que o quê se estiver fazendo hoje seja algo importante. Afinal, se está trocando um dia de sua vida por isso.
  • A última função da liderança é ser exemplar. As pessoas normalmente observam o líder, e procuram ver quem ele é e o que faz, assim como o que diz. Cada dia mais as Organizações procuram profissionais éticos.

As responsabilidades e cobranças são grandes, sendo necessário ter disponibilidade e vontade para assumir a liderança em várias situações.  Por isso, é preciso querer ser líder.

A cada dia mais as organizações precisam de bons líderes. Se você se interessa pelo assunto, busque oportunidades de liderança, seja em equipes, na família ou ainda na sua comunidade. Cada experiência lhe ajudará a crescer. E, na Organização de hoje, você precisa criar suas próprias oportunidades.

Extraído do livro A Arte de Liderar – Vivenciando Mudanças num Mundo Globalizado.

Fonte: http://www.empresanet.com.br/artigos/articles/exercendo-a-lideran%C3%A7a-nos-tempos-atuais.html

Seleção de Pessoas

Por  Kelly Mayana Pacheco de Sousa

1. Considerações Iniciais

As empresas estão constantemente admitindo novos funcionários, e isso exige delas um preparo para decisão quanto ao ingresso ou não de um candidato em sua equipe. Esse processo de admissão deve ser bem planejado, de modo que o novo funcionário tenha a maior possibilidade de atender as suas expectativas.
O que se percebe no meio empresarial é uma busca constante por profissionais que apresentem as qualidades necessárias ao cumprimento das responsabilidades do cargo que vai assumir e isso é reflexo da crescente valorização das pessoas que compõem uma empresa. Contratar e reter talentos são processos vitais para as organizações.
No processo de admissão de um novo funcionário a seleção vem logo após o recrutamento, e se caracteriza por ser uma atividade de decisão, capaz de identificar talentos com potencial para fazer a diferença no mercado. É através dela que o candidato recrutado é, ou não selecionado.
Existem diferentes técnicas de seleção, todas com o objetivo de dar subsídios para uma escolha mais assertiva. Entre elas estão a entrevista, a análise de currículos, os testes psicológicos, provas situacionais, dinâmica de grupo e o psicodrama.

2. Seleção de Pessoas: Conceito

O mundo dos negócios caracteriza-se, atualmente, pela forte competitividade entre as empresas, o que impõe a busca por candidatos que melhor possam cumprir as tarefas dos cargos a serem ocupados, bem como contribuir para que a organização atinja seus objetivos. Daí a importância de um processo que viabilize a admissão de pessoas capazes de fazer o diferencial dentro da organização.
A seleção de pessoas é o processo que busca, dentre os vários candidatos recrutados, aqueles que são mais adequados aos cargos existentes nas organizações, visando manter ou aumentar a eficiência e o desempenho do pessoal, bem como a eficácia da organização, ou seja, preservar ou enriquecer o capital intelectual da organização (CHIAVENATO, 1999).
Assim, o objetivo do processo de seleção de pessoal é escolher o candidato com melhores conhecimentos e habilidades para desempenhar determinada tarefa, de modo que a empresa possa ver o seu funcionário como peça valiosa na obtenção dos resultados almejados.
Quando o profissional responsável pela seleção não possui conhecimentos técnicos acerca desse processo, tende a contratar pessoas com base em sua experiência pessoal ou na própria imagem, gerando dessa forma um procedimento equivocado optando por pessoas que não são capazes de desempenhar de maneira correta as tarefas que lhe são confiadas. Um processo de seleção mal conduzido resulta, portanto, em profissionais insatisfeitos em seus cargos, desperdício de dinheiro para a organização, problemas na produção e no atendimento, hostilidade por parte de clientes e fornecedores, e consequentemente, o aumento inaceitável de rotatividade de pessoas (GIL, 2009).
Dessa forma, selecionar pessoas para uma organização é uma tarefa que exige preparo e técnica por parte de quem a desempenha, pois é a partir desse processo que as pessoas ingressam na empresa, e o desempenho destas nas atividades exigidas pelo cargo, irá dá indicações do processo que lhes selecionaram.
Na seleção há a comparação entre os requisitos do cargo a ser preenchido (requisitos que o cargo exige de seu ocupante) e o perfil das características dos candidatos que se apresentam. A primeira variável é fornecida pela descrição e análise do cargo, enquanto a segunda é obtida por meio de aplicação das técnicas de seleção (CHIAVENATO, 1999).

3. Técnicas de Seleção de Pessoas

Para que seja realizado um processo de seleção capaz de visualizar o candidato mais adequado para uma determinada vaga deve-se fazer uso de procedimentos capazes de comparar os diferentes candidatos recrutados, para por fim, selecionar o potencialmente mais capaz (GIL, 2009).
As diferentes técnicas de seleção utilizadas possuem o objetivo de dar subsídios para uma escolha mais assertiva. No entanto, é importante atentar par o fato de que tais técnicas prevêem uma margem de acerto e de erro, e por isso não são a expressão do futuro, mas apenas uma predição. Assim, para diminuir a possibilidade de erro na escolha de um candidato, recomenda-se a utilização de diversas técnicas que se complementem (LIMONGE-FRANÇA; ARELLANO, 2002).

3.1. Entrevista

Segundo Ribeiro (2005), a entrevista consiste em um instrumento auxiliar no processo de seleção que deve buscar informações sobre fatos profissionais, educacionais e socioeconômicos relativos ao candidato. Ela é reconhecida atualmente como um dos mais úteis instrumentos que se dispõe para a seleção de pessoal. Isso por possibilitar o contato direto com o candidato e a identificação de sua capacidade para exercer o cargo que se deseja preencher (GIL, 2009).
Sua eficácia depende muito de quem a executa, portanto, esta técnica de seleção exige do entrevistador habilidades, tais como: deixar o entrevistado à vontade, manter um bom contato com ele, e obter as informações desejadas (RIBEIRO, 2005). Muitos dos entrevistadores acabam por reduzir a entrevista a um simples bate-papo, sem que haja um planejamento prévio e uniformidade, tornando-a limitada enquanto técnica.

3.2. Análise de Currículos

A análise de currículos é um método útil para a obtenção de informações sobre um candidato. No entanto, se utilizada de forma isolada se torna insuficiente para a obtenção de uma visão ampla e real do candidato Essa técnica permite apenas o conhecimento das informações contidas no currículo, deixando de lado características importantes que podem ser evidenciadas com o contato pessoal do selecionador com o candidato. Para que essa técnica possua mais validade é recomendável fazer seu uso combinado com outros métodos, como a entrevista (GIL, 2009).

3.3. Testes Psicológicos

Segundo Limonge-França e Arellano (2002), os testes psicológicos são instrumentos padronizados que servem de estímulo a determinado comportamento que se pretende examinar. Ele propicia condições para evidenciar determinadas características no sujeito.
Segundo Gil (2009), os testes podem ser usados para a avaliação de potencial intelectual dos candidatos, de suas habilidades específicas e de seus traços de personalidade. Quando utilizados devem ser manejados com grande perícia, levando-se em consideração se estão devidamente habilitados e com autorização para serem aplicados.
Podem ser divididos em psicométricos ou de personalidade. Os primeiros medem aptidões individuais, determinando um índice comparado com escores ponderados e validados anteriormente. Os segundos identificam traços de personalidade, aspectos motivacionais, interesses e distúrbios (LIMONGE-FRANÇA; ARELLANO, 2002).

3.4. Técnicas vivenciais

As técnicas vivenciais são as que exigem respostas a situações de forma que os candidatos interajam e participem ativamente delas. Tratam-se de atividades que envolvem atuação e muitas vezes simulação de uma circunstância profissional. Podem ser classificadas em: provas situacionais, dinâmica de grupo e psicodrama (LIMONGE-FRANÇA; ARELLANO, 2002).
As provas situacionais são relacionadas às tarefas do cargo, como por exemplo um teste de digitação. A dinâmica de grupo de grupo consiste em colocar os candidatos reunidos em grupo diante de situações em que terão de demonstrar sua forma de reação. O psicodrama tem como objetivo a expressão da personalidade por meio de um papel social atribuído, e o candidato deve expressar-se de acordo com o esperado para esse papel, permitindo a expressão de sentimentos, valores e emoções do candidato.

4. Conclusão

A seleção de pessoas é o momento de decisão pela escolha do profissional que apresenta as melhores condições de acordo com o perfil para o cargo em aberto. É um processo dinâmico em que se procura conciliar os interesses da organização com os interesses do candidato.
Esse processo tem por objetivo dar mais segurança à empresa quanto ao profissional que adentra na sua equipe, pois procura identificar, dentre as opções disponíveis, os mais aptos para ocupar a função.
São várias as técnicas a serem utilizadas, e para diminuir a possibilidade de erro na escolha de um candidato, é recomendável a utilização de diversas técnicas que se complementem, visto que dessa forma pode-se conseguir uma percepção mais abrangente do comportamento dos candidatos.
Assim, devido a alta competitividade das empresas e a procura cada vez maior por pessoas capacitadas, a seleção de pessoas é um processo que ganha visibilidade e valorização dentro das organizações.

Fonte: https://psicologado.com/atuacao/psicologia-organizacional/selecao-de-pessoas

Entre o desespero e a esperança: como reencantar o trabalho?

Para a psicologia social, reconhecimento é o fator que permite transformar o sofrimento em prazer; resta saber como e por que as formas atuais de organização precisam ser alteradas para que isso ocorra
Christophe Dejours
Nos dias de hoje, quando se fala do trabalho, é de bom-tom considerá-lo a priori como uma fatalidade. Uma fatalidade socialmente gerada. E, de fato, é preciso reconhecer que a evolução do mundo do trabalho é bastante preocupante para os médicos, para os trabalhadores, para as pessoas comuns apreensivas com as condições que serão deixadas a seus filhos em um mundo de trabalho desencantado.
E, no entanto, no mesmo momento em que devemos denunciar os desgastes psíquicos causados pelo trabalho contemporâneo, devemos dizer que ele também pode ser usado como instrumento terapêutico essencial para pessoas que sofrem de problemas psicopatológicos crônicos. No que concerne à visão negativa, é preciso distinguir o sofrimento que o trabalho impõe àqueles que têm um emprego do sofrimento daqueles homens e mulheres que foram demitidos ou que se encontram privados de qualquer possibilidade de um dia ter um emprego.
Há, portanto, situações de contraste. Surge inevitavelmente a questão de saber se é possível compreender as diversas contradições que se observam na psicodinâmica e na psicopatologia do trabalho. Isso só é possível se defendermos a tese da “centralidade do trabalho”. Essa tese se desdobra em quatro domínios:
• no domínio individual, o trabalho é central para a formação da identidade e para a saúde mental,
• no domínio das relações entre homens e mulheres, o trabalho permite superar a desigualdade nas relações de “gênero”. Esclareço que aqui não se deve entender trabalho apenas como trabalho assalariado, mas também como trabalho doméstico, o que repercute na economia do amor, inclusive na economia erótica,
• no domínio político, é possível mostrar que o trabalho desempenha um papel central no que concerne à totalidade da evolução política de uma sociedade,
• no domínio da teoria do conhecimento, o trabalho, afinal, possibilita a produção de novos conhecimentos. Isso não é óbvio. O estatuto do conhecimento, supostamente elevado acima das contingências do mundo dos mortais, deve ser revisto profundamente quando se considera o processo de produção do conhecimento e não apenas o conhecimento. É o que se chama de “centralidade epistemológica” do trabalho.
Levando-se em conta o objetivo deste texto, examinarei aqui somente a primeira dimensão, a da centralidade do trabalho no que concerne à formação da identidade e à saúde mental.
Formas de organização do trabalho
As novas formas de patologia mental relacionadas ao trabalho (ver quadro na página 53) dão uma ideia inicial da importância dos problemas descobertos pela prática clínica, mas vale a pena apresentar as razões e os processos que provocam degradações desse porte. Insisto, portanto, nos resultados recentes das pesquisas etiológicas sobre as novas patologias: a deterioração da saúde mental no trabalho está intrinsecamente ligada à evolução daorganização do trabalho e, em particular, à introdução de novas estratégias, entre as quais se destacam:
• a avaliação individualizada dos desempenhos;
• a busca da “qualidade total”;
• a terceirização em escala e o uso crescente de trabalhadores free-lancers em vez do trabalho assalariado.
A evolução dos métodos de organização do trabalho constitui uma verdadeira revolução que aumenta consideravelmente a pressão produtiva, por um lado, e o isolamento e a solidão, por outro. O aumento das patologias mentais ligadas ao trabalho resulta essencialmente da fragilização gerada por métodos de organização que, no lugar da confiança, da lealdade e da solidariedade, instalam no mundo do trabalho o cada um por si, a deslealdade, a desestruturação do convívio, produzindo uma implacável solidão em meio à multidão.
Aquém da patologia, o sofrimento no trabalho
Se hoje é possível estudar os sintomas da patologia mental no trabalho, como, ao contrário, definir as condições que seriam favoráveis à saúde mental?
Para responder a essa questão, precisamos entrar na própria materialidade do trabalho, isto é, observar os gestos específicos, as ideias, os afetos que constituem o que designamos como “o trabalhar”. O “trabalhar”, assim como se diz “o comer”, “o beber”, “o dormir” ou, ainda, “o trabalho vivo”, na bela expressão de Marx.
Desde que os ergonomistas se prestaram ao que se chama análise ergonômica do trabalho e da atividade, distinguimos dois conceitos: a tarefa e a atividade. A tarefa define o objetivo a ser atingido, assim como o caminho a ser percorrido, ou seja, o modo operatório. A tarefa é aquilo que é prescrito pela organização do trabalho. Mas está provado que os trabalhadores (ou os operadores, como são designados pela ergonomia) jamais respeitam as prescrições em sua totalidade. Em todas as circunstâncias, inclusive nas tarefas que duram menos de um minuto, os operadores “trapaceiam”. Não somente pelo prazer de transgredir ou de desobedecer, mas porque é preciso lidar com as anomalias, os incidentes, as panes, os defeitos, os imprevistos que inevitavelmente surgem para atrapalhar o funcionamento da produção. O operador trapaceia para tentar fazer o melhor possível, no tempo mais curto possível.
O real
Todos esses incidentes que perturbam o que foi prescrito constituem aquilo que se denomina oreal. O real é aquilo que se apresenta ao trabalhador pela resistência da matéria, dos utensílios ou das máquinas. Existe, portanto, um paradoxo no real. No momento em que uso uma técnica que conheço bem, eis que, de repente, ela não funciona mais: é o bug do computador, a peça que se quebra sob a prensa, a máquina que aquece em demasia, o corpo do doente que apresenta uma reação alérgica quando injeto o medicamento etc. Ora, todo trabalho é, dessa forma, marcado pela contínua interrupção da resistência do real. O real se faz conhecer inicialmente como fracasso. O trabalho vivo é esse trabalho que consiste em desafiar o real. E essa experiência do real é acima de tudo afetiva e se revela como tal: ela gera um sentimento de surpresa, logo substituído pelo nervosismo e pela irritação, se não pela cólera ou pela decepção, a fadiga, a dúvida, o desalento, o sentimento de impotência.
A dificuldade com o real é que frequentemente não se sabe como enfrentá-lo. Não se conhece a solução. O real é, na maior parte dos casos, uma prova inédita, inesperada, desconhecida. Assim, trabalhar implica precisamente a capacidade de lidar com o real, até encontrar a solução que permitirá superá-lo.
A inteligência
Se não conheço a solução, é necessário que eu a descubra sozinho. Às vezes, é preciso que eu a invente. Em que consiste, então, a inteligência necessária para que se possa superar o real? Essa inteligência é a capacidade de reconhecer o real, assumir a própria impotência diante dele, a perda de controle. Por fim, a parte mais difícil: dar prova de resistência ao fracasso. Ou seja, eu não consigo, eu não posso, mas não desisto. Insisto, persisto, eu me obstino, eu busco. Às vezes, esse processo dura muitos dias. Penso nele mesmo fora do trabalho, à noite. Chego a ter insônia por causa do meu trabalho. Sonho com ele! A inteligência no trabalho é tudo isso. Para inventar ou encontrar a solução, é preciso se engajar completamente, de corpo e alma, com toda minha subjetividade. E, por meio dessa resistência frente ao fracasso, acabarei tendo a intuição da solução.
Mas, deve-se sublinhar, a intuição nasce da intimidade com a tarefa, com a matéria, com o objeto técnico, que resistem. É preciso fracassar, resistir, recomeçar, fracassar de novo, persistir, voltar ao trabalho e, em determinado momento, surge uma ideia, uma solução, que é fruto do fracasso, da familiarização com ele. A solução vem da capacidade de resistir ao fracasso, isto é, da capacidade de sofrer.
Do sofrimento à formação de habilidades
A princípio, portanto, trabalhar é fracassar, trabalhar é sofrer. E a solução é um produto direto do sofrimento no trabalho. Uma coisa merece ser sublinhada: o sofrimento não é somente a consequência contingente e lamentável do trabalho. O sofrimento é, ao contrário, o que move o sujeito que trabalha a buscar a solução para se libertar desse sofrimento que o aflige. Poderíamos mostrar que o sofrimento é também o modo fundamental pelo qual se constitui esse conhecimento extraordinário do real, o conhecimento íntimo que é também um conhecimento pelo corpo. É o corpo que toca o mundo e a resistência que se opõe à nossa técnica. E é desse conhecimento pelo corpo que emana, em determinado momento, a ideia, a intuição do caminho que permitirá contornar o real e superá-lo.
Poderíamos mostrar também que essa resistência à luta com o real conduz por fim a um deslocamento de si. É preciso alterar a própria relação com o trabalho para encontrar a solução, de maneira que, no fim das contas, trabalhar nunca é somente produzir, mas é também transformar a si próprio. Ao final dessa prova, adquiri novas habilidades, novas competências. Fico mais inteligente depois da confrontação com o real (a resistência do mundo) do que eu era antes de ter trabalhado.
Dessa análise da diferenciação entre tarefa e atividade, entre o prescrito e o efetivo, com o real entre os dois, é possível tirar duas lições: a primeira é que trabalhar é, fundamentalmente, percorrer a distância entre o prescrito e o efetivo. Em outras palavras, é aquilo que é necessário acrescentar às prescrições a fim de sobrepujar a tarefa e o real. A segunda é que o trabalho transforma o trabalhador e, no melhor dos casos, permite-lhe progredir, aprimorar-se, realizar-se. Essa é a primeira abordagem do prazer no trabalho. Isso está implícito na expressão “trabalho vivo” (lebendige Arbeit).
Invisibilidade do “trabalhar”
Mas existe uma espécie de maldição sobre aquilo que está no cerne do trabalho. As reações afetivas à resistência do real e ao fracasso não são visíveis. A irritação, o desencorajamento, a dúvida sobre a própria competência não se veem. Minhas insônias, os efeitos do meu mau humor sobre meus filhos, sobre meu cônjuge, não se veem nos locais de trabalho. E, quando estou sonhando com meu trabalho – tempo essencial para transformação –, quando estou imaginando uma solução, minha imaginação, assim como os meus sonhos, não se veem. O sofrimento, de maneira geral, não pertence ao mundo visível. O sofrimento, como todos os afetos e sentimentos, como toda subjetividade, como também o amor, “(…) se experimenta de olhos fechados”. E como, além disso, para chegar ao resultado, sou obrigado a usar artimanhas, a trapacear e a enfrentar os regulamentos, não posso sequer mostrar como foi que consegui resolver o problema e superar o real.
Assim, o essencial do trabalho é fundamentalmente invisível. Isso constitui a maldição que atinge o trabalho. O essencial do trabalho não se vê.
Trabalho coletivo, inteligência no plural
Agora podemos aprofundar a descrição, já que só falei do trabalho considerado individualmente. Afinal, as pessoas geralmente não trabalham sozinhas. Trabalha-se para um chefe, para seus colegas ou para seus subordinados. Trabalhar em conjunto é extremamente complicado, sobretudo se todo mundo se mete a ser inteligente! Pois cada um traça o próprio caminho, elabora as próprias artimanhas, inventa as próprias descobertas, constrói os próprios conhecimentos. E inevitavelmente surge a desordem, se não o caos! Encontra-se aqui, no plano coletivo, mais uma vez um hiato, uma separação entre as prescrições, as injunções para trabalhar em conjunto – o que se chama de coordenação – e o que efetivamente fazem aqueles que conseguem trabalhar em conjunto – a cooperação. Entre coordenação e cooperação, a distância é enorme.
Seria impossível resumir as habilidades para mobilizar e superar a distância entre o prescrito e o efetivo, entre a coordenação e a cooperação. Imagine o quanto esse processo é ao mesmo tempo sutil e fascinante, o quanto ele envolve sofrimentos, conflitos e discussões. Em outras palavras, a cooperação só é possível se os indivíduos se engajarem nos conflitos e nos debates coletivos, ou seja, se eles tomarem riscos.
Do sofrimento ao prazer no trabalho
Se, portanto, o sofrimento está na interseção entre o trabalho individual e o trabalho coletivo, por que então as pessoas tomam esses riscos a sua saúde? Por que se engajam com tanta energia em seu trabalho, no trabalho vivo?
É porque, em troca da contribuição que elas oferecem à organização do trabalho, à empresa ou à sociedade como um todo, elas esperam uma retribuição. Essa retribuição é, em primeiro lugar, obviamente material: o salário, os honorários, as gratificações… Mas é fácil perceber que o que mobiliza a inteligência e o zelo, individuais e coletivos, não é propriamente a dimensão material da retribuição; mas a dimensão simbólica. O que as pessoas esperam em troca de seu engajamento e de seu sofrimento é uma retribuição moral que assume uma forma extremamente precisa: o reconhecimento.
Esse reconhecimento, no entanto, não é somente um suplemento de espírito nem um simples tapinha carinhoso nas costas. Ao contrário: o reconhecimento passa por provas bastante rigorosas que consistem em julgamentos. Aqui, podemos dizer que há dois tipos de julgamento: o julgamento de utilidade e o julgamento de beleza.
Não disponho aqui do espaço para descrevê-los. Mas vou indicar, de todo modo, que esses julgamentos de reconhecimento, atrás dos quais todos corremos, não se referem à pessoa do trabalhador. O julgamento esperado é um julgamento que se refere especificamente ao trabalho cumprido: à sua utilidade por um lado, à sua qualidade por outro.
Apenas quando obtenho o reconhecimento da utilidade e da qualidade do meu trabalho é que tenho a satisfação intensa da minha relação com o trabalho. O reconhecimento do trabalho é o que permite transformar o sofrimento em prazer. O reconhecimento se distingue do masoquismo pelo fato de que, no masoquismo, o sofrimento é fonte direta do prazer em função da erotização do sofrimento ou da dor. No caso do reconhecimento, trata-se de um longo percurso: é na passagem pelo trabalho, pelo desafio do real, pelo sofrimento, pela descoberta de soluções que o sofrimento se transforma finalmente em prazer.
Reconhecimento, identidade e saúde mental
Um último comentário para compreendermos a relação entre trabalho e saúde mental: eu disse que o reconhecimento se refere ao trabalho. Mas, quando a qualidade de meu trabalho é reconhecida pelos outros, então me é possível – embora se trate de uma questão exclusivamente pessoal – destinar o reconhecimento do registro do fazer para o registro doser: eu sou mais inteligente, mais competente, mais seguro de mim mesmo depois do trabalho do que antes dele. Pouco a pouco, de etapa em etapa, eu mesmo me desenvolvo, minha identidade se fortalece, eventualmente eu me realizo.
Podemos também constatar que o reconhecimento da qualidade do meu trabalho pelos meus pares faz de mim um técnico ou um artesão como os demais técnicos, como os demais artesãos, um pesquisador como os demais pesquisadores, um psicólogo como os demais psicólogos, um chefe como os demais chefes etc… Isso quer dizer que o reconhecimento me confere o pertencimento a uma equipe, a uma coletividade, a uma profissão. O reconhecimento confere, portanto, em troca do meu sofrimento, um pertencimento que exorciza a solidão. Em resumo, o reconhecimento permite àquele que trabalha transformar o seu sofrimento em desenvolvimento de sua identidade.
Ora, a identidade é o alicerce da saúde mental. Toda crise psicopatológica traz em si uma crise de identidade. Com frequência saímos de nossa infância mais ou menos deformados, com uma identidade inacabada, incompleta, instável. O trabalho, por meio da ação do reconhecimento, constitui uma segunda chance para edificar e desenvolver nossa identidade e adquirir assim uma melhor resistência psíquica em face dos desafios da vida.
Certas organizações do trabalho favorecem a psicodinâmica do reconhecimento e permitem inscrever o trabalho como mediador insubstituível da saúde. Por outro lado, aqueles que são privados de trabalho, os desempregados de longa data ou desempregados primários, perdem também o direito de oferecer uma contribuição à organização do trabalho, à empresa e à sociedade. Assim, eles estão privados de qualquer reconhecimento, e podemos prever os danos psicopatológicos e sociais – em particular, o aumento da violência – que resultam de uma privação de emprego.
Visto a partir do teatro do desemprego, o trabalho parece um privilégio. Claro! Mas o mundo do trabalho tampouco é cor-de-rosa e certas organizações do trabalho em voga costumam destruir sistematicamente as engrenagens dessa dinâmica entre contribuição e retribuição. Desestruturam as condições do reconhecimento e da cooperação e minam as bases do viver em conjunto no trabalho. É preciso, portanto, na medida em que se busca uma ação racional no campo das relações entre trabalho e saúde mental (e também na reduçaõ da violência social) agir em duas frentes: aquela do emprego, claro, mas também aquela da organização do trabalho.
Gostaria de sublinhar que as novas formas de organização do trabalho podem e devem ser questionadas. Elas não têm nada a ver com a consequência inevitável de um destino. Toda organização do trabalho é uma construção humana. Ela só se desenvolve com o consentimento e a colaboração de milhões de homens e mulheres. O trabalho pode gerar o pior, até suicídio, mas ele pode gerar o melhor: prazer, autorrealização e emancipação. É graças ao trabalho que as mulheres se emancipam da dominação dos homens. Não existe nenhuma fatalidade na evolução atual. Tudo depende da formação de uma vontade coletiva a fim de reencantar o trabalho.
DOENÇAS DO TRABALHO CONTEMPORÂNEO
Para Christophe Dejours, “o trabalho não causa o sofrimento; é o sofrimento que produz o trabalho”. No entanto, “a atual organização do trabalho não explora o sofrimento em si, mas os mecanismos de defesa utilizados contra esse sofrimento”. As formas atuais da organização do trabalho seriam diretamente responsáveis, portanto, pelo aumento de algumas patologias corporais e mentais contemporâneas. Podemos classificá-las sumariamente em quatro categorias:       
Patologias de sobrecarga, lesões por esforço repetitivo, em particular a burn-out syndrom, o karoshi, distúrbios musculares e esqueléticos.
Patologias relacionadas a agressões de que são vítimas funcionários do setor de serviços na execução de tarefas cotidianas (agressões de usuários, clientes, alunos de escolas etc.). Atingem desde caixas de supermercado e operadores de telemarketing a funcionários do serviço público.
Patologias resultantes de assédio moral ou mobbing.
Patologias ligadas à intolerância e à pressão no trabalho que podem ocasionar suicídios no próprio ambiente de trabalho. Ver o caso de Francis Verstaen, que se suicidou na linha de montagem da Volkswagen, na Bélgica, diante de seus colegas. A história foi retratada no documentário A cadeia do silêncio (La chaîne du silence), de Agnès Lejeune.
Fonte: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/03/reencantar-o-trabalho/

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Lançamento do livro "Caminhos da Linguagem: uma visão transdisciplinar" - vol. II

Amigos, colegas e familiares, convido para o lançamento do volume II do livro Caminhos da Linguagem: uma visão transdisciplinar.
Será um prazer dividir esse momento com todos vocês.
Dia 17 deste mes, sexta feira, as 18,30 hs na Livraria Fnac do Barra Shopping Sul.
Nós todos, autores e organizadores, esperamos vocês!



SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.........................................................................................................................

BRISOLARA, Valéria. Curtindo e Compartilhando: Autoria e espaço digital.....................................

COPPETTI, Lígia Sayão Lobato. A Influência da Interação na Formação e Expressão de Identidades em um Ambiente Virtual de Aprendizagem..................................................................................................

COSTA, Beatriz Medeiros da. Literatura e construção da autonomia na infância: linguagem e pensamento infantil............................................................................................................................................

JARDON, Manuel Cid. A Intertextualidade na construção dos textos jurídicos...................................

LEFEBVRE, Rosane. Questões de Autoria e Estilo..........................................................................

MELLO, Maíra Barberena de. Ensino – Aprendizagem de uma língua adicional: Múltiplos processamentos..............................................................................................................................

MOOJEN, Carolina. A Leitura e o desencadeamento do processo....................................................

PAZ, Martha Costa Guterres. O Simbolismo sonoro de Avalovara, de Osman Lins, sob a ótica da Filosofia Tântrica.........................................................................................................................................

SAHAGOFF, Ana Paula da Cunha. Reflexões sobre concepções de leitura: PCN e LD....................

SERPA, Katiane Covatti e Silva. A Participação Popular na Criação da Lei da Ficha Limpa à Luz da Análise Crítica do Discurso........................................................................................................................

MARTINS, Amelina Silveira. Ensino-Aprendizagem de Lingua(gem) e professor de LP como LA..................................................................................................................................................

SILVA, Miriam Teresinha Pinheiro da. A versatilidade da Linguagem oral e as suas nuances para a comunicação humana.......................................................................................................................

 SOUZA, Denúsia Moreira de & GOMES, Leny da Silva. Recursos eletrônicos digitais em livros didáticos de língua e literatura do ensino médio................................................................................................

TORMA, Kathy. O trabalho colaborativo no ensino - aprendizagem de inglês como língua adicional através da perspectiva das comunidades de prática........................................................................................


CURRÍCULO DOS AUTORES........................................................................................................