segunda-feira, 5 de maio de 2014

Trabalho e Motivação

Arvore
Encontre um trabalho que ama e você nunca mais trabalhará um dia sequer em sua vida.
Mais do que nunca, os tempos atuais exigem que você procure trabalhar com o que gosta. Pode ser porque ali vai passar a maior parte dos seus dias, ou porque vai conviver mais com os colegas do trabalho do que com sua família, ou ainda porque se continuar a fazer o que faz sem realmente se importar, o epílogo desta história pode não ser o esperado (você pode largar tudo antes do que imagina, pode querer mudar de trabalho amanhã cedo ou pode até adoecer por falta de interesse e alma pelo que faz).
É fundamental encontrar sentido no trabalho. Gostar do que você faz e produz, sentir satisfação e orgulho pelo seu ofício e resultados. Não sentir o tempo passar. Querer fazer mais e melhor. Isso é se encontrar em seu trabalho. É o chamado engajamento, que surge quando você realmente se motiva e realiza pelo que faz.
Engajamento de talentos é uma evolução do termo “retenção”. Talentos não podem ser retidos, somente engajados. Afinal, a autonomia está em quem possui o talento, e não no chefe ou na empresa. Mais do que nunca, os tempos atuais apresentam o engajamento no trabalho como uma condição-chave para o sucesso sustentável das organizações.
Muito já se escreveu e falou sobre motivação e engajamento no trabalho. A seguir, apresento minha ótica pessoal de como profissionais e empresas devem tratar o assunto. Como ajuda visual, utilizo um elemento muito simples e comum a todos nós: uma árvore.
Pense em uma árvore como a estrutura central de sua motivação no trabalho. Uma árvore com 3 partes, sendo que cada uma das partes representa um aspecto fundamental da identificação com o trabalho: Raízes, Tronco e Copa.
Nas Raízes, estão os fatores de base, fundamentais para a árvore existir e se sustentar. Sem isso, não existe sequer permanência de curto prazo dos profissionais nas empresas. Os fatores-raiz da motivação no trabalho são:
a. Condições de trabalho – são os aspectos físicos, de limpeza, higiene, iluminação e bem-estar mínimo. Quase como itens de salubridade, que representam as condições mínimas para que você possa render e produzir.
b. Relações interpessoais e pertencimento – grau de integração que você tem com seus colegas, time de trabalho, chefe e ambiente corporativo como um todo. Se você não se sente parte, muito em breve não deve estar ali.
c. Segurança – no sentido da garantia ou intenção da empresa em manter a posição que você ocupa, a sensação que não vai ser desligado daqui a 5 minutos. Afinal, não há quem consiga produzir com a ameaça de ser abduzido em seguida.
d. Hierarquia e justiça – a empresa é justa com você e seus colegas? As regras são claras e valem para todos? Você sabe a quem deve responder e quais suas atribuições e responsabilidades básicas? Com quem você deve falar no caso de um problema ou dúvida?
e. Status – não adianta: se você, por exemplo, tem todas as atribuições de um gerente, mas só é de fato e não de direito, sem o devido status, muito em breve você vai ficar desmotivado. E reclamar. Ou se calar. Para em seguida, sair.
f. Remuneração – por fim, uma condição básica: o dinheiro. Mas perceba que dinheiro é fator da Raiz, e não da Copa da árvore. É fator de base, sem isso não há permanência. Mas a verdadeira motivação não mora na Raiz. Ou no dinheiro. Não entendeu? Leia mais um pouco.
Depois das Raízes da Arvore vem o Tronco, que cria estrutura e estatura em relação ao engajamento no trabalho. Condições que auxiliam na permanência de médio prazo dos talentos nas empesas. Os fatores-tronco para a motivação são os seguintes:
a. Feedback – você acha que está indo bem, mas precisa ouvir, saber, de fato, a opinião dos outros, de seu chefe, de seus pares. Feedback é fundamental para a correção de ruídos de comportamento ou performance. Idem para acertar o prumo e manter a motivação com o que fazemos.
b. Reconhecimento – pode ser um mero tapinha nas costas, um elogio por escrito ou verbal, ou mesmo um endosso na frente dos colegas. Somos humanos e, por consequência, gostamos (e precisamos) de reconhecimento. Seja para nos sentirmos melhor, seja para validar que estamos no caminho certo.
c. Equilíbrio e bem-estar – se gostamos do que fazemos, mas vivemos somente para trabalhar, sem nenhum tempo para a vida pessoal, o engajamento começa a definhar, a enferrujar. Precisamos ter um mínimo de tempo para as relações pessoais, para nós mesmos, para desligar um pouco do trabalho e equilibrar as demais dimensões da vida. Sem isso, depois de algum tempo, mesmo o trabalho mais especial do mundo começa a ser percebido de outra forma.
d. Por quê e para quem – quando entendemos qual o objetivo de nosso trabalho, qual a contribuição de nosso esforço para um espectro maior, compreendemos e justificamos melhor nosso empenho e dedicação. Se com isso nos sentimos orgulhosos, queremos fazer mais, e por mais tempo.
Por fim, vem a Copa da Arvore. Os fatores da Copa são os que realmente engajam e criam senso de propósito, de missão e entrega. Representam as condições de permanência de longo prazo dos talentos. São os que referendam a dedicação e empenho com o trabalho, como uma vocação ou até mesmo um chamado. Na Copa, estão os seguintes fatores de engajamento:
a. Ofício – Madre Tereza dizia “O milagre não é fazer este trabalho, mas ser feliz por fazê-lo”. Esta frase representa bem o significado de ofício: o prazer e a satisfação de fazer um trabalho, a recompensa intelectual, emocional e espiritual de fazer o que se gosta.
b. Responsabilidade e autonomia – todos nós precisamos de autonomia para poder escolher a forma de realizar uma tarefa. É o chamado “fazer bem-feito e do seu jeito”. Precisamos, também, da certeza de que somos responsáveis pelo resultado de uma tarefa. Quando temos responsabilidade e autonomia no trabalho, nos sentimos empoderados.
c. Aprendizado, horizontes e crescimento – todos nós queremos aprender e crescer profissionalmente. Para isso, precisamos sentir que estamos nos desenvolvendo, e que temos espaço para crescer e conquistar mais.
d. Realização e conquistas – entra aqui a adrenalina do sucesso, a satisfação da entrega, a euforia da conquista, a recompensa da entrega. O que retroalimenta a certeza do caminho trilhado, fortalecendo a vontade de seguirmos em frente.
A palavra Trabalho tem sua etimologia ou origem ligada a dois conceitos diferentes: laborum etripaliumLaborum é o lado do ofício, do engajamento. Tripalium o do sofrimento (era um instrumento de tortura dos tempos medievais). No Francês, encontramos oeuvre (obra) etravail (trabalho). O conceito é o mesmo: construir uma obra ou realizar uma tarefa repetitiva.
A verdade é que a motivação verdadeira está no intrínseco do trabalho, no que ele representa para nós. Por isso, a Copa da Arvore. Motivação nunca está no extrínseco (Raiz), que é aquilo que nos é dado ou fornecido pela empresa.
Precisamos equilibrar os fatores extrínsecos com os intrínsecos. É de cada um de nós o desafio de encontrar significado no que fazemos de forma rotineira.
Idem para os líderes: se tentam motivar os profissionais das equipes com uma mera lista de itens desejados por elas, estão mais para garçons do que líderes. Até que um novo restaurante surja, com garçons e itens mais atrativos.
De novo, motivação é algo que encontramos na Copa da Arvore, ou dentro de cada um de nós. Somos nós os responsáveis por nossa motivação, e não as empresas para as quais trabalhamos. Para os motivados e engajados, trabalho é fonte de prazer e realização. Para quem não é feliz com o que faz, a angústia e o peso da semana começam já com a música do Fantástico.
Seu trabalho é descobrir qual o seu trabalho, e depois se entregar de corpo e alma. (Buda)
A maioria dos homens vive vidas de desespero calado e vai para o túmulo com a música ainda dentro de si. (Henry David Thoreau)
Fonte: http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/muito-trabalho-pouco-stress/2013/10/20/trabalho-motivacao-e-o-fantastico/

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