A origem da psicodinâmica do trabalho está nos estudos realizados por Le Guillant, em psicopatologia do trabalho, porém, ela sofre um processo revolucionário a partir dos estudos de Christophe Dejours. De acordo este último, “a psicodinâmica do trabalho é uma disciplina clínica que se apóia na descrição e no conhecimento das relações entre trabalho e saúde mental; (…), é uma disciplina teórica que se esforça para inscrever os resultados da investigação clínica da relação com o trabalho numa teoria do sujeito que engloba, ao mesmo tempo, a psicanálise e a teoria social” (p. 28).
Tem como ponto central a relação entre sujeito e a organização do trabalho como determinante do sofrimento mental; já a liberdade do trabalhador é condição necessária à estabilidade psicossomática. Para Dejours (1992), a carga psíquica do trabalho é aumentada quando a liberdade de organização do trabalho sofre uma diminuição. Quando não há mais uma possibilidade de organizar o trabalho por parte do trabalhador, tem-se então o domínio do sofrimento.
O sofrimento, então, passa a designar o campo que separa a doença da saúde. Existe às vezes, entre o homem e a organização prescrita para a realização do trabalho, um espaço de liberdade que autoriza uma negociação, invenções e ações de modulação do modo operatório, isto é, uma invenção do operador sobre a própria organização do trabalho, para adaptá-la as suas necessidades e mesmo para torná-la mais congruente com seu desejo. Logo que esta negociação é conduzida a seu último limite, e que a relação homem-organização do trabalho fica bloqueada, começa o domínio do sofrimento e da luta contra o sofrimento. Segundo Dejours (1992), se não há espaço público para a negociação, começa o sofrimento.
A organização do trabalho é vista, antes de mais nada, como uma relação socialmente construída e não somente em sua dimensão tecnológica. Mas a organização do trabalho é, de certa forma, a vontade de outro. Ela é primeiramente a divisão do trabalho recortando o conteúdo da tarefa e as relações humanas. A Psicodinâmica do Trabalho se apóia então, em dois pontos principais: as relações sociais do trabalho e do sofrimento no trabalho.
Neste sentido, a pesquisa em Psicodinâmica do Trabalho se desenvolve penetrando no campo da vivência subjetiva, do sofrimento e do prazer no trabalho. Ao privilegiar na análise das vivências subjetivas as articulações do singular e do coletivo, o individualismo perde sua força socialmente constituída. A questão principal na pesquisa em Psicodinâmica do trabalho é a demanda dos trabalhadores que participarão, a investigação, a análise e a interpretação do material de pesquisa, já que, conforme postulam Dejours, Abdoucheli e Jaynet (1994), para chegar ao sofrimento é preciso passar pela palavra dos trabalhadores.
A pesquisa em Psicodinâmica do Trabalho possibilita aos sujeitos avançarem em suas interpretações da organização do trabalho. É na elaboração que existe uma análise mais precisa das condições de trabalho e uma melhor condição de propor ações adequadas com vistas a modificar a organização do trabalho.
A psicodinâmica do trabalho está voltada para a coletividade e não apenas para o sujeito, portanto, suas intervenções são direcionadas à organização do trabalho. Ela considera que as agressões sofridas pelo Ego, produzem fantasmas, que estão ligados ao que é quase insuportável, o desejo de mudança e a possibilidade de sublimar (sua base teorica é a psicanálise freudiana). A psicodinâmica do trabalho faz uma exposição das possíveis agressões psíquicas provenientes da organização do trabalho e possibilita identificá-las antes de se tornarem uma patologia. A partir disso, pode-se pensar quais efeitos negativos o trabalho gera para o sujeito, causando-lhe sofrimento psíquico. (...). Por meio do diagnóstico, é possível entender a relação estabelecida entre trabalho e doença, bem como propor uma intervenção eficaz precocemente, com o objetivo de detectar e erradicar o problema em um estágio ainda prematuro.
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